Sob o silêncio das três horas, o assassino sentiu que a morte viria buscá-lo naquela madrugada.
Vestiu sua melhor roupa, abriu a janela devagar e deixou que o frio da noite entrasse como um hóspede gentil.
A cidade coberta de névoa dormia logo abaixo, ninada por uma dúzia de estrelas. Mais além, na distância, ele viu nuvens cheias de neve flutuando sobre o topo das montanhas.
E pensou: "Virá antes da neve?"
E uma voz meiga, que não era de homem ou de mulher, sussurou das sombras do quarto: "A neve não virá esta noite."
O assassino voltou-se e olhou para o outro extremo do quarto, onde uma figura esguia lhe observava em silêncio, silhuetada contra a janela e o céu noturno.
"Eu estava esperando por você", disse ele, mirando a aparição. "Esperei por muito tempo."
"E quem seria eu?", perguntou a voz.
O homem respondeu: "Quando eu era jovem, sonhava com você. Na minha infância, sobre o cadáver da minha mãe, você veio a mim e me olhou em silêncio..."
"...meu belo anjo da morte."
"Eu persegui sua sombra pelo mundo", continuou ele. "Pelos cemitérios e campos, nos becos das metrópoles e nas aldeias de ninguém..."
"Dentro da noite e sob as chuvas, segui seu rastro, que só eu podia ver..."
"No calor do meu primeiro assassinato, senti seu hálito em meu rosto, no escuto."
"E esta noite, aqui, longe de casa, soube que você viria."
"Finalmente", disse o assassino, ansioso..."partiremos juntos."
O Fantasma olhou-o com ternura: uma vela iluminou-lhe o rosto branco, e ele disse:
"Por que me procurou, se estive ao seu redor o tempo todo?"
"Quando a solidão lhe assombrou, não fiz-lhe companhia? E quando o amor voltou-lhe as costas, minhas asas não lhe serviram de refúgio?"
"E nas horas de embriaguez, ao sol poente, não conversamos em silêncio, tantas vezes?"
"Somos íntimos; fui sua sombra e seu espelho."
"E, a partir desta noite, estarei diante de você para sempre... para que não me busque mais."
O assassino ouviu as palavras e, espantado, balbuciou: "Mas, meu anjo da morte..."
E ouviu a resposta:
"Não, não sou a Morte. Ainda me chamo - e sempre me chamarei - Loucura."
O assassino caiu de joelhos e soluçou a seus pés o resto da noite.
Através da janela, podia ver a neve caindo devagar.
Mas sabia que não estava nevando.
Um comentário:
Já disse o que acho desse conto... ele é sem sentido, bocó e "dork gothic 666"
Só li isso porque você me mostrou =P
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